A Importância de Realizar a Triagem Cognitiva

Confira no texto a seguir,  orientações sobre a importância dos profissionais da saúde realizarem a triagem cognitiva. O artigo foi escrito pela Dra. Carina T. Spedo, uma das responsáveis pela adaptação brasileira do teste: Mini exame do estado mental – segunda edição (MMSE-2).

Segundo projeção do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2016) em 2018 temos 8.486.490 idosos entre 60-64 anos de idade. Em 2020 teremos 9.197.063 e em 2050, 15.152.333. O processo de envelhecimento populacional ocasiona em modificações da pirâmide populacional, requerendo novas demandas da política pública. Este fato ocasiona mudanças no panorama epidemiológico, tais como, maior prevalência das doenças crônicas, perdas cognitivas, dentre outras.

Deste modo, o declínio cognitivo vem se tornando um dos cuidados de saúde mais preocupantes do século XXI. Os idosos frequentemente reclamam que esquecem nomes, nome de objetos conhecidos, nome de lugares que frequentaram, etc. Cabe aos clínicos o desafio de identificar precocemente se as alterações cognitivas decorrentes de dificuldades com a memória representam um declínio cognitivo associado ao envelhecimento normal, ao quadro de Comprometimento Cognitivo Leve ou quadro degenerativo. Dada a natureza sindrômica, a demência não indica uma doença particular; daí a relevância da investigação diagnóstica para identificar os casos possivelmente tratáveis e reversíveis. Atualmente é reconhecido que o diagnóstico e tratamento precoce de um quadro demencial pode retardar a progressão da doença e reduzir o custo do cuidado. Em um esforço para reduzir o impacto causado pela demência, os profissionais recomendam exames de rotina para demência desde a atenção primária. Estes exames consistem em avaliações cognitivas breves.

Neste contexto, o Mini Exame do Estado Mental (MMSE; Folstein, Folstein & McHugh, 1975) é designado como uma medida de auxílio a o exame clínico do funcionamento cognitivo. É considerado um dos instrumentos breves mais utilizado para triagem do comprometimento cognitivo (Lezak, Howieson & Loring, 2004).

O Departamento Científico de Neurologia Cognitiva e do Envelhecimento da Academia Brasileira de Neurologia aconselhou o uso do MMSE para rastreio populacional e detecção de casos de demência. No Brasil o MMSE foi traduzido por Bertolucci e col. (1994) e eficientemente normatizado por Brucki et al (2013); O teste mostrou-se adequado tanto para uso institucional (hospital, ambulatório), quanto populacional (visita domiciliar).

Outros estudos sugeriram que o teste possui algumas limitações. Verificou-se que superestimava deficiências em pessoas com mais de 60 anos e em pessoas com menos de nove anos de escolaridade. O MMSE tem sido relatado como insensível a deficiências cognitivas resultantes de disfunção do hemisfério direito, bem como formas mais leves de disfunções cognitivas, especialmente as subcorticais. Além disto o efeito aprendizagem é elevado, pois não possui formas equivalentes e alternativas.

Desta forma, diante desta necessidade do diagnóstico cada vez mais precoce das demências e das inúmeras limitações apontadas, uma nova revisão do MMSE foi realizada, dando origem a segunda edição do teste: o MMSE-2.

Dentre os objetivos da Revisão do instrumento, estão: Primeiramente, disponibilizar uma versão de aplicação que pudesse ser utilizada para conduzir uma avaliação clínica rápida de indivíduos em amplos contextos ou estudos populacionais. Esta versão é intitulada MMSE-2: Versão Breve (MMSE-2:BV). Segundo modificar alguns itens originais e problemáticos do MMSE original, manter a equivalência entre o MMSE original e os de culturas diferentes da que ele fora criado, desenvolver formas equivalentes e alternativas para diminuir a possibilidade dos efeitos da prática. Esta versão equivalente ao MMSE original é intitulada MMSE-2: Versão Padrão (MMSE-2:SV). Por último, disponibilizar uma versão que pudesse ser mais sensível à demência subcortical, mais sensível às mudanças associadas ao envelhecimento e para uso em pessoas com maior escolaridade. Esta versão é intitulada MMSE-2: Versão Expandida (MMSE-2: EV). A escala é simples de usar e pode ser facilmente administrada em 5-20 minutos, inclusive por profissionais não médicos. Cada versão varia em tempo de aplicação e correção. Deste modo o examinador deve julgar qual versão usar e quando proceder com um exame adicional.

MMSE-2BV: Versão Breve: Esta versão do MMSE é adequada para rastrear grandes populações e indivíduos que estão nos consultórios não devido a queixas cognitivas. Alguns clínicos costumam ter um profissional treinado para aplicar esta versão do teste na sala de espera. Caso esta versão do MMSE-2 esteja alterada, a aplicação dos demais itens dos teste são indicadas.

MMSE-2SV:  Versão Padrão: Esta versão é indicada a indivíduos que são encaminhados devido a queixas de declínio cognitivo ou de que a memória não é tão boa o quanto era no passado. Entretanto, para pacientes mais instruídos, uma opção mais confiável é aplicar diretamente a versão expandida do MMSE. É recomendado encaminhar para avaliação neuropsicológica os pacientes que tiveram desempenho abaixo da média no MMSE associados outros dados clínicos que corroborem este resultado do teste.

MMSE-2EV: Versão Expandida: O MMSE-2: EV requer aproximadamente 20 minutos para aplicação. É mais sensível em pessoas mais escolarizadas e nos casos suspeitos de desordens subcorticais.

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Carina T. Spedo

Psicóloga clínica pela Universidade Paulista (2004); residência em Neuropsicologia e Psicologia hospitalar pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo (HC / FMRP-USP 2007); Mestrado (2012) e doutorado (2016) em Neurociências pelo Departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento de Ribeirão Preto, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMRP-USP); Especialista em neuropsicologia pelo Centro de Psicologia da Saúde – Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC / USP). Desde 2013, trabalha em parceria com o Instituto Brasileiro de Neurociências (IBNeuro). Foi monitora de classe no curso Princípios e Práticas de Pesquisa Clínica (PPCR), fornecido pela faculdade de medicina de Harvard (2014). Pesquisadora pós-doutoranda no Departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo (FMRP-USP). Dedica-se à pesquisa clínica envolvendo os seguintes tópicos: psicometria, adaptação transcultural de instrumentos de medida psicológica; Metodologia de pesquisa; avaliação, monitoramento e reabilitação neuropsicológica de pacientes com Esclerose Múltipla; MRI e fMRI em pacientes com Esclerose Múltipla. Trabalha em colaboração de pesquisa com a esclerose múltipla, demência vascular e clínicas ambulatoriais da geriatria da FMRP-USP.