Dependência Tecnológica – Uma Patologia Moderna.

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As dependências tecnológicas, mais do que nunca, predominam no horizonte das patologias modernas do comportamento humano, muito embora a ciência atual ainda exiba cautela no que diz respeito a considerá-las como uma nova doença do século XXI. Ainda que as publicações científicas e a mídia leiga tenham abordado o tema de maneira sistemática há mais de uma década, parte expressiva da sociedade (e, por que não dizer, os profissionais de saúde, inclusive) revela um espantoso desconhecimento a respeito.

A maioria ainda não se deu conta de que as interações entre os humanos e as telas digitais, da forma como vêm sendo observadas, começam a cobrar um pedágio bastante expressivo na qualidade de vida e na deterioração da saúde mental de seus usuários e, mais do que isso, o uso contínuo e recorrente não apenas tem levado milhares de pessoas aos consultórios de psiquiatras e psicólogos do mundo, como também já conta com centros especializados de atendimento – também conhecidos como programas de “detox digital”. Apenas na China, para citar um exemplo, já é apontada na literatura especializada a incrível marca de 150 hospitais destinados ao tratamento exclusivo de dependência de internet e de jogos eletrônicos. Portanto, não estamos falando de um assunto de pequeno calibre, mas, na verdade, algo extremamente maior.

Ocorre, entretanto, que a tecnologia se desenvolve de uma maneira tão veloz e espantosa que, à medida que os cientistas se debruçam sobre uma determinada plataforma e/ou aplicativo para estudo, estes simplesmente desaparecem em questão de tempo, pois surge uma nova ideia, manifesta em novo sistema operacional. Assim ocorreu com o Orkut. Portanto, as telas e seus aplicativos encontram-se em tamanha transformação que, definir claramente seus contornos para estudo e investigação, não é uma tarefa fácil.

No entanto, isso não impede que muitos, inclusive leigos, não estejam tentando fazer algo a respeito. Recentemente um grande crítico da tecnologia, o senador americano Josh Hawley, elaborou um documento denominado The social media addiction reduction technology (SMART) Act, visando banir das plataformas digitais todos os recursos clandestinos que almejam tornar os usuários frequentadores assíduos das suas plataformas. Segundo Hawley, as grandes empresas de tecnologia adotam modelos comerciais que se baseiam em técnicas de persuasão e de adição, tornando a população suscetível aos efeitos deletérios das navegações.

Nesse sentido, vale dizer, que parte da “inovação” que nos é apresentada diariamente, na verdade, teria como meta, não a criação de melhores produtos que poderiam, inclusive, melhorar nossa saúde e nossa qualidade de vida, mas sim a busca e o aprimoramento contínuos de melhores e mais eficazes técnicas de manipulação e de suscetibilidade psicológica.

No Brasil, felizmente, o Governo Federal (Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos – MMFDH) tem olhado com bastante preocupação esta temática e uma força-tarefa – prepara um grande programa a respeito do uso inteligente das novas tecnologias – denominado Programa Reconecte –, que visa alertar, conscientizar e educar a população sobre os desdobramentos que o uso excessivo pode ocasionar –, com lançamento futuro do Detox Digital Brasil, que é uma campanha de conscientização para que as pessoas fiquem um dia sem usar tecnologia para praticar outras atividades, como ir a museus, a parques, praticar atividade físicas, entre outras.

Mais do que nunca, este é momento de olharmos com renovada cautela e seriedade o que ocorre “do outro lado” de nossa vida digital – principalmente nas experiências vividas pelos nossos filhos que se encontram em fase de formação – e começarmos assim, o quanto antes, a executar ações que tenham como meta a promoção de uma maior consciência e que, acima de tudo, nos permita exercer uma real cidadania digital.

Para concluir, o trabalho realizado no livro ‘Dependência de Internet’, de autoria dos professores Daria Kuss e Halley Pontes é, efetivamente, de grande valia, pois oferece uma análise pormenorizada e uma revisão abrangente a respeito dos vários aspectos que abordam os diferentes recortes já apresentados nas pesquisas científicas sobre as dependências tecnológicas. Além disso, os autores nos apresentam os distintos modelos de intervenção clínica e nos agraciam com alguns métodos de tratamento. Para aqueles que possuem algum interesse no assunto, esta obra que precisa fazer parte da biblioteca pessoal.

Os doutores Daria J. Kuss e Halley Pontes são psicólogos e pesquisadores internacionalmente renomados, quanto ao tema de dependências tecnológicas. O livro ‘Dependência de Internet’ conta ainda com a revisão técnica do Dr. Cristiano Nabuco de Abreu, que é Coordenador do programa de dependência tecnológica do Programa Ambulatorial Integrado dos Transtornos do Impulso (PRO-AMITI) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo.

Confira o livro, e boa leitura!!

 

Nabuco redondo

Cristiano Nabuco de Abreu

Psicólogo com Doutorado em Psicologia Clínica pela Universidade do Minho – Portugal e Pós-Doutorado pelo Departamento de Psiquiatria do Hospital das Clinicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Por mais de uma década, desenvolveu protocolos de atendimento clínico, coordenando o Serviço de Psicologia do Ambulatório de Transtornos Alimentares (AMBULIM – IPq/HCFMUSP). Posteriormente, iniciou uma unidade pioneira no país para o atendimento de pacientes Dependentes em Tecnologia, desenvolvendo modelos de intervenção em psicoterapia e onde, até a presente data, coordena o referido grupo (PRO-AMITI-IPq/HCFMUSP).